quarta-feira, maio 05, 2010

Competitividade-Estratégia-Darwinismo Organizacional


Na Administração Contemporânea muito se fala em "Estratégia". Empregado em sentidos variados e até bem genéricos, o termo, criado pelos gregos e originalmente vinculado às artes militares, de fato faz-se necessário ao dia-a-dia das organizações dos mais variados setores, concorrentes (ou combatentes) deste novo cenário de competitividade. Feitas as adaptações devidas, todos que buscaram a definição ou formulação de estratégias ao longo da história contribuíram com o conceito que hoje compartilhamos. Ou teria errado Alexandre, o Grande, em 330 a.C., ao definir estratégia como "o emprego de forças para vencer o inimigo"? Ou Péricles (450a.C.), ao definir como "habilidades gerenciais de administração, liderança, oratória e poder"? O que falar então dos milenares conselhos de guerra de Sun Tzu? E dos conselhos estratégicos de "marketing político" dados por Maquiavel a Cesare Borgia, em O Príncipe? Desde o início das civilizações houve a preocupação com aquilo que posteriormente seria chamado de "estratégia", o que mudou, e vem mudando, porém, é a intensidade, importância e precisão destas, uma decorrência da evolução da competitividade.

Charles Darwin vem apresentando, desde 1842, aquilo que seria a grande explicação para a evolução das espécies. O que hoje concebemos como "Seleção Natural" é o processo através do qual animais, desprovidos de cérebros desenvolvidos, competem pela sobrevivência quando vivem em um mesmo ambiente – saindo vitoriosos (vivos) aqueles mais adaptados àquela realidade. Entenda-se por "adaptados" aquelas espécies com peculiaridades que permitem melhor caçada, melhor fuga, melhor camuflagem etc. Neste cenário, a competitividade decide quem sobrevive, entretanto não cabe aos animais a formulação de estratégias que lhes garanta tal sorte. O êxito fica por conta do acaso e da probabilidade.

Com o marco histórico da Revolução Industrial, a grande mudança ficou por conta da capacidade de produção em larga escala. A competitividade começava a surgir, entre as organizações, porém tinha-se uma ingênua concepção de que a oferta gerava a demanda. As organizações teriam apenas a preocupação com a produção. Havia mercado para todos. Inclusive porque grande era a comercialização de commodities, regulada basicamente por oferta e procura, não cabendo neste momento, ainda, a necessidade de formulação estratégica tal qual hoje concebemos.

Dando seqüência a esta evolução de cenários competitivos, poderíamos mencionar a grande alteração ocorrida com o ciclo de vida dos produtos. Determinadas invenções, como por exemplo a fotografia, levaram até um século para chegarem a ser comercializadas. Nos dias atuais, todavia, os produtos possuem, em média, um ciclo de vida (entre a criação e o comércio) de até cinco meses apenas, com o setor de informática registrando alguns ciclos de apenas noventa dias. Eis o novo cenário competitivo, que exige uma constante preocupação com a Gestão Estratégica.

Vários são os fatores que contribuem com essa mutabilidade do ambiente corporativo e acirramento da competição organizacional: os ciclos econômicos, o envelhecimento da população e sua mudança de hábitos, a responsabilidade sócio-ambiental, as novas tecnologias, a globalização etc. O fato é que vivenciamos uma nova "seleção", não mais "natural", mas onde sobrevivem as organizações mais adaptáveis e flexíveis – é o Darwinismo Organizacional.

Richard Sennet, sociólogo americano, autor de "A Corrosão do Caráter", propõe o que chama de Sistemas Flexíveis, modelo sugerido às organizações que busquem a sobrevivência no atual cenário de competição globalizada. Seus pensamentos pressupõem a Reinvenção Contínua da Organização, através da reengenharia, do downsizing, do teletrabalho, enfim, com o rompimento de rotinas e processos burocráticos; a Especialização Flexível da Produção (produção sensível às demandas); a Concentração de Poder sem Centralização – que garantiria unidade com liberdade; e, por fim, Foco no Cliente, que pressupõe o fim da tentativa de criação de produtos/serviços que busquem atingir de imediato a satisfação dos clientes – segundo Sennet o segredo estaria na personalização e produção estimulada.

Para finalizar, concluo buscando, novamente, embasamento em uma teoria biológica, que, adaptada ao cenário empresarial, faz-se bastante apropriada. Trata-se do Princípio da Exclusão Competitiva de Gause, que afirmou que quando duas espécies diferentes habitam um mesmo ambiente e têm nichos muito semelhantes, uma delas irá sempre prevalecer, pois é mais adaptada àquele habitat. A mesma ideia pode ser adaptada às organizações concorrentes, que precisam lançar mão de estratégias e diferenciações adaptativas que lhes permitam sobreviver no mercado. É o Darwinismo Organizacional e sua seleção (não mais natural, visto que se permite influenciar) em constante aplicação.

Por: Adm. Rodrigo Cavalcante

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